Sempre que exploro, com as minhas crianças e jovens, as forças de caráter, vejo como excelentes oportunidades de eles reconhecerem o que tem de melhor e como o vão poder colocar em prática, uma espécie de super poderes que passam a poder utilizar sempre que necessário, caixa de ferramentas se assim o quiserem chamar. Este mês proponho explorar estas duas “ferramentas” Bondade e Perspetiva. 

Inserida na virtude Humanidade encontra-se a força da Bondade, expressa-se nas relações com os outros, nas nossas ações diárias e formas de lidar. Podemos ser bondosos de muitas maneiras, no tempo que dedicamos ao outro, a escutá-lo, a ajudar, a simplesmente estar presente, quando nos lembramos do outro e o demonstramos. Este ato genuíno implica agir com empatia e compaixão, procurar fazer o que é bom para o outro, preocupado pelo seu bem estar. Nós pais agimos com bondade com os nossos filhos quando brincamos com eles, quando ouvimos as suas preocupações, as suas histórias engraçadas, quando criamos momentos de verdadeira conexão, seja pelas pequenas coisas do dia a dia como cozinhar em conjunto, ir às compras, organizar a casa, ler uma história, seja pela atenção que lhes damos por os considerarmos dignos desse cuidado. Na prática podemos demonstrar aos nossos filhos a importância de ajudar os amigos, ou até alguém desconhecido com quem percebemos que podemos ter gestos simples de apoio, segurar a porta, carregar um saco, apanhar o que caiu … Em casa aceitar a ajuda de todos, na medida de cada um, como contribuições para um bem maior, onde não são necessárias recompensas e sim valorizado o apoio mútuo. Acredito que as crianças tem inicialmente a bondade dentro delas, de forma muito espontânea, é importante que as experiências que vão tendo e o contexto que as rodeia não diminua essa atitude. 

Já a Perspetiva insere-se na virtude Sabedoria, relacionado com a capacidade de ver o quadro alargado, de ter em conta os vários ângulos, como se sobrevoássemos para ter uma vista alargada e não focada nos detalhes ou preciosismos. Aceitar que pode haver pontos de vista diferentes e todos contribuem para o todo, para criar o panorama geral, assim como também implica equacionar várias abordagens, soluções, considerar múltiplos lados antes de tomar uma decisão. Implica aceitar que pode haver formas diferentes de sentir e pensar uma determinada situação, que não são necessariamente erradas, só porque são diferentes das nossas. Esta é uma força que, sem dar-mos conta, usamos todos os dias, quando falamos com um amigo com diferentes opiniões ou damos o nosso conselho, quando ouvimos as zangas entre irmãos e os ajudamos na mediação da solução. Com os nossos filhos é importante mostrar que não é por validar os sentimentos dos outros que perdemos a razão, que nos pode ajudar o alargar de perspetivas sobre um determinado assunto, implica flexibilidade e capacidade de argumentação. Mostrar-lhes o panorama geral e sair do centrado no seu ponto de vista é fundamental para as relações que venham a estabelecer e isso passa por criar espaços seguros de conversa onde todos se sintam à vontade de expressar o seu ponto de vista, sem julgamento ou medo de errar. 

Estas duas forças de caráter, quando combinadas, criam uma poderosa base para relações saudáveis e uma vida orientada para o bem comum. A Bondade move as crianças a agirem com generosidade e empatia, enquanto a Perspetiva ajuda-as a entender o impacto dessas ações e a refletir sobre como podem ajudar de forma mais eficaz. Em conjunto, formam um caráter que não só se preocupa com os outros, mas que também compreende o que é melhor em diferentes contextos. Cultivar a Bondade e a Perspetiva nos nossos filhos é essencial para criar indivíduos conscientes, compassivos e capazes de tomar decisões equilibradas. Ao ajudar as crianças a desenvolver estas forças de caráter, estamos a prepará-las para serem adultos que farão a diferença no mundo, criando relações saudáveis, contribuindo para o bem comum e refletindo de forma ponderada sobre as suas escolhas. Como pais, temos o privilégio de os guiar neste processo, garantindo que, além de crescerem fortes e independentes, os nossos filhos também cresçam bondosos e sábios.