1 de Abril, 2024

Curiosidade e Autocontrolo

O juntar destas duas forças de carácter, foi um desafio que me coloquei a mim mesma, no sentido de procurar o equilíbrio , até que ponto é saudável e onde passa a ser em excesso.  

Será sequer que faz sentido ter autocontrolo quanto à nossa curiosidade? Será que desejamos que os nossos filhos tenham um autocontrolo tal que nem lhes permitimos expressarem-se? 

As preocupações que os pais me trazem são exatamente o que me ajuda a refletir nestas questões. Para entendermos melhor onde será a linha do saudável para cada um de nós é preciso primeiro termos clareza dos conceitos que estamos a abordar: 

Curiosidade como força de carácter, insere-se na virtude sabedoria e reflete-se na vontade de explorar e descobrir coisas novas, no interesse que se coloca no que se faz, na procura da novidade, em estar aberto a novas experiências, associamos com o desejo natural de construir conhecimento de me sentir envolvido em novas experiências. Há dois pontos fundamentais que nos demonstram o uso da curiosidade, seja pelo interesse em explorar novas ideias, atividades, situações, seja pelo forte desejo de aumentar o seu próprio conhecimento, mas no excesso a curiosidade pode levar a uma insatisfação constante, uma procura sem rumo, numa tentativa de encontrar satisfação. 

Por sua vez a força de carácter autocontrolo está inserida na virtude temperança e diz respeito à capacidade não só de se conhecer mas também de saber gerir e autorregular quer a nível emocional, quer comportamental. Esta força de carácter implica um grande conhecimento de si mesmo, dos limites, das capacidades, dá um sentido de equilíbrio e ordem. No entanto o autocontrolo em excesso, ou constante pode levar a uma dificuldade de expressão e à exaustão. Imaginem como se fosse um músculo, se formos treinando na medida certa vai ficando mais robusto, mas se continuamente passarmos o limite pode rasgar. 

Por isso nós pais temos um papel fundamental, por um lado despertar o interesse e ajudar a desenvolver estas forças de carácter e por outro guiar para que não caiam no outro extremo, sendo que as linhas orientadoras serão sempre diferentes para cada filho e vão-se ajustando à sua própria evolução. 

No caso da curiosidade, vejo como importante, este despertar para a procura, num contexto em que tudo está ao alcance de um “passar o dedo” num telemóvel, desenvolver a perseverança em querer saber mais, em ter espírito crítico em relação ao que encontra, em permitir que experimentem novos ambientes, atividades, mantendo-se para além das primeiras frustrações, estas experiências vão-lhes permitir mais à frente serem resilientes e quererem ir para além do óbvio. Ou seja não ser só um saltitar de interesses e atividades numa fuga perante a dificuldade ou a falta de imediatismo e sim usarem a sua curiosidade como algo positivo que os levará certamente mais além. 

Quanto ao autocontrolo, ele nunca foi tão necessário, exatamente por esta velocidade estonteante em que vivemos. Cada vez mais os pais ficam aflitos perante a dificuldade dos filhos gerirem a frustração, as suas emoções e reações. Tenho vários jovens a dizerem-me “Eu só quero conseguir controlar os meus pensamentos”. 

Para ajudar os nossos filhos a desenvolverem autocontrolo passa por ajudá-los a conhecerem-se, a perceberem o seu corpo, estarem atentos ao que desencadeia certas emoções, é dar-lhes literacia emocional. Não quero com isto dizer que eles tem de controlar tudo, o reprimir não é controlar, mas ao não validarmos o que sentimos vai aparecer mais cedo ou mais tarde e por norma de forma mais intensa. Por isso é fundamental ajudá-los a perceber os sentimentos que uma determinada situação provoca no corpo, identificar o que despoleta fisicamente, ter consciência dos pensamentos para depois então se poderem expressar sem gritos, sem se magoar a si ou aos outros. É conseguirem verbalizar o que estão a sentir para assim encarar e decidirem como querem agir, isto é ter capacidade de gerir e controlar o que se passa dentro deles. 

Enquanto a curiosidade é o que nos pode levar mais longe, o autocontrolo é o que nos vai guiar nesse caminho. 

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