Quero colo!

Este mês de Maio é marcado por várias datas que nos ajudam a relembrar algo precioso que na rotina por vezes vamos deixando escapar. Seja pelo dia do bebé, dia da mãe ou da família, há algo em comum em todos eles, o resgatar do que realmente importa, do que nos move, aquele sentimento mais forte, mais profundo do que qualquer outro, a essência, é um celebrar da vida.

Mesmo que não tenhamos filhos, nós somos filhas(os) também, às vezes esquecemo-nos disso ou pelo contrário mantemo-nos nesse papel eternamente, cada um de nós iniciou a sua vida como bebé e cada um de nós tem a sua própria família, seja qual for o formato ou composição, que será sempre única. E nessa essência há sempre um sentimento maior, o amor, o amor incondicional, sem restrições, sem julgamentos, sem pressa, apenas e simplesmente amor, estarmos disponíveis para dar e receber.

Isto traz-me à ideia os braços abertos, a abertura para acolher, para dar colo, haverá algo mais genuíno e simples? No meio dos problemas, da azáfama, esquecemo-nos que pode ser assim tão fácil, que às vezes dar colo é tudo o que é necessário e que traz a quem dá e a quem recebe a força que precisa naquele momento, traz o parar, o acalmar da respiração, dos pensamentos, o voltar a centrar no que realmente importa e que a solução até pode estar mesmo aí, dentro de nós. Pois numa realidade de respostas prontas, soluções rápidas, temos tendência a achar que isso não nos vai apaziguar, quando afinal, muitas das vezes, a única coisa que precisamos é ter alguém que nos ajude a parar, e a olhar para dentro para que agora, com outros olhos consigamos ver de outra forma. Alguém que acredite em nós e nos ensine a acreditar.

Também há, quem, de tanto se habituar a dar colo se esqueça que também precisa de receber, claro que é gratificante só o simples ato de estar lá para dar, mas também é importante estarmos disponíveis para receber, aceitar que pedir colo não é nenhuma fragilidade, é apenas permitir viver as nossas vulnerabilidades, que não há idade certa ou errada para pedir colo, pelo contrário, que pena que quando crescemos, também cresce em nós a ideia distorcida de que isso já não é para os adultos, que até parece ridículo ou despropositado. Mas o que é importante acontecer quando crescemos é também aprender que podemos dar colo a nós próprios, podemos e devemos nos mimar e cuidar de nós, claro que precisamos dos outros, somos seres sociais e algo estranho seria se achássemos que sozinhos conseguimos tudo, mas que isso não seja uma dependência e sim algo a mais que nos damos, sendo que primeiro de tudo conseguimos olhar para o que nos dói, o que tem de ser cuidado e perceber o que nos dará colo, de que forma nos podemos nutrir.

Por isso o meu convite é se alguém, pequeno ou crescido, à sua maneira, lhe pedir colo, só abra os braços, não é preciso mais para fazer toda a diferença, e não se esqueça de se incluir nesse abraço!

Aprender com os nossos filhos

Cada vez me convenço mais de que nós os “crescidos” temos muito mais a aprender com as crianças, do que elas connosco. Como se na nossa essência trouxéssemos o que mais importa, esse espírito livre, aberto e disponível para o que a vida nos dá e fossemos desaprendendo ao longo do caminho.
Nem sempre no meu dia a dia eu tenho disponibilidade de acompanhar as atividades dos meus filhos como gostaria, no outro dia dispus-me a ir assistir a

uma aula completa de ginástica acrobática e ao lado estavam a decorrer mais duas turmas de ginástica. Chamou-me a atenção a motivação e dedicação destas crianças ao final de um dia de escola, em que também já elas estão cansadas e fizeram mil coisas. Às oito da noite mantinham o mesmo sorriso e entusiasmo num treino exigente e que nada tinha de espontâneo. Senti como uma verdadeira lição que nós, adultos, podemos tirar. As crianças estavam a fazer o treino a divertirem-se e com verdadeiro prazer pela atividade, achei extraordinário e algo que nós vamos perdendo ao longo da vida, esse juntar entre prazer e trabalho, esse viver o presente sem peso do que está para trás e do que está por vir.

Então de que forma podemos manter essa perseverança nos vários momentos da nossa vida, o que podemos aprender com os nossos filhos?

É apenas a minha perceção, mas o que vejo de diferente nas crianças e que se vai alterando à medida que crescemos, é que elas estão dispostas a tentar, não assumem o erro como algo negativo, isso vai sendo incutido, sabe-se lá porquê e como! Se não como explicaríamos as inúmeras tentativas que um bebé faz para começar a andar, segurar num brinquedo, falar e tudo mais. É de extrema dificuldade todas as primeiras aquisições e, no entanto, não conheço um único ser que tenha desistido, não estão preocupados com o que os outros pensam, nem sequer colocam a hipótese de não conseguirem, quaisquer que sejam o número de tentativas. A única coisa que importa é o que querem atingir e não descansam enquanto não forem bem-sucedidos, e assim que atingem algo logo passam para o desafio seguinte. Claro que há frustrações pelo caminho, choro, birras, e elas são fundamentais para o crescimento saudável. Mas mais do que a perseverança, o que eu acho verdadeiramente uma lição, pela minha experiência pessoal, é que na grande maioria das vezes, os bebés, as crianças fazem tudo isto a rir, a brincar, a divertirem-se e a desfrutarem do momento! É bonito ver a sua entrega genuína, o sorriso sem filtros.

É algo que tenho tentado reaprender, nem sempre bem-sucedida, claro, mas quero continuar a tentar, é essa leveza nas coisas, é estar atenta à simplicidade em vez de me focar naquele ponto que é mais difícil, outras vezes é apenas dedicar-me àquele momento sem deixar a cabeça viajar pelas preocupações.

Não digo que seja fácil, mas os benefícios em conjugar as situações, as tarefas, a nossa vida, com um sorriso, sem que isso nos traga culpa ou vergonha, é algo que vale a pena aprender! E nesse ponto acredito verdadeiramente que temos muito a aprender com os nossos filhos, se assim estivermos predispostos.

Autocrítica, positivo ou negativo?

Muito se fala nesta questão de uma pessoa saber se autoavaliar, criticar-se, dar a si próprio feedback, até nas escolas se tem fomentado isso, mas será que estamos preparados? Ou estamos a fazer da melhor forma?

Não sei se tem sentido isso, mas eu cada vez oiço mais pessoas a criticarem-se como sendo uma coisa normal, como se isso fosse esperado delas e por isso mesmo, estivessem no bom caminho.

O mais comum, infelizmente, é ouvir pais a dizer que só podem estar a fazer tudo mal, que nem vale a pena esforçarem-se porque também já não mudam, de qualquer forma não iria fazer diferença o seu empenho. Se por um lado temos esta autoflagelação de que somos os piores pais à face da terra, de que não sabemos nada, por outro lado há um desinvestimento e desacreditar total, porque faça eu o que fizer, não vale a pena, é um baixar dos braços que sinceramente me assusta, é um misto de sentimento de impotência com resignação. E vamo-nos sentindo presos neste ciclo negativo e deixamos andar.

Ainda pior que isto é que cada vez mais, assisto a este padrão em crianças e jovens. Não acreditam neles próprios, veem o esforço como uma perda de tempo sem sentido, talvez porque não há um impacto imediato, não tem logo aquele resultado fantástico, no entanto colocam-se metas impossíveis, como se só o excecional fosse aceite, colocam-se padrões elevadíssimos, o que os leva muitas das vezes a sentirem-se frustrados, algo que a maioria não sabe lidar, a sentirem tudo como sendo de uma dificuldade extrema e no limite a nem tentarem para não haver perigo de falhar, pois isso é algo insuportável de gerir.

Claro que tudo isto acaba por ser reflexo do contexto em que estamos inseridos, esta urgência e busca pelo prazer imediato, em que aparentemente tudo é fácil e instantâneo. A verdade é que no fundo estamos a desenvolver uma mentalidade fixa que só nos leva numa espiral negativa.

Acredito que é possível inverter este ciclo, através de um outro olhar, de experimentar um outro ponto de vista, em que podemos ver a autocrítica como uma forma de desenvolver o nosso potencial, uma análise realista dos pontos que podemos ajustar e melhorar. Lembrando sempre da importância de realçar os nossos pontos positivos, ter consciência, sem medos nem vergonhas do que fazemos bem, do nosso potencial e melhor ainda como o usamos de forma eficiente.

Perceber também que não há uma forma única de agir, não há um modelo para se ser Pai ou Filho, há a nossa, verdadeira, genuína, e que é importante valorizar o que nos torna únicos, esse acreditar nas infinitas possibilidades é o que nos permite ver para além do problema. É o que nos dá força para continuar no caminho mesmo com obstáculos.

Resgatar esta crítica positiva, consciente é o que nos levará enquanto pais, e aos nossos filhos para uma relação de crescimento, com todas as imperfeições que tornam a nossa família especial!

O que estamos dispostos a mudar?

Fala-se muito da importância da mudança de hábitos, seja para sermos mais saudáveis, ativos, produtivos e tantas outras coisas, tudo em prol do nosso bem-estar e de sermos mais e melhor. Mas será bem assim?

A verdade é que tudo isso muitas das vezes acaba por ser sentido como mais uma pressão do “tem que!”. E, por conseguinte, mais uma frustração de que não fui capaz de que falhei novamente.

Na parentalidade não é diferente, o que não falta são dicas para sermos melhores pais, para mudarmos, sermos mais comunicativos, amigos, assertivos, com disciplina mas com afeto, divertidos, pragmáticos, autênticos, emotivos, com tempo de qualidade para os filhos, para os outros, para si, Ufa! Enfim tudo menos livres para sermos quem somos e fiéis ao que nos faz sentido. A verdade é que muitas das vezes nos sentimos tão assoberbados que acabamos por perder a direção e nos sentirmos perdidos.

E claro que é importante procurar ser melhor e tentar mudar aquilo que realmente não nos está a ser útil de forma a encontrar o que nos fará bem a nós e aos nossos filhos, eu sou a prova disso, mas que isso não represente mais uma luta, que não seja mais um ponto de algo a conquistar e sim um caminho que conscientemente queremos percorrer. Tendemos a correr atrás de tudo o que nos pareça uma ajuda num ato desesperado de que é desta que tudo se vai resolver e esquecemo-nos de parar e olhar para tudo o que já sabemos, que fomos aprendendo, que intuímos e acreditar no nosso potencial enquanto pais, enquanto pessoas capazes de cuidar de si e de outros seres.

Por isso convido-vos a esse momento de pausa para que possam reencontrar tudo o que já fizeram no percurso da vossa parentalidade, e que voltariam a fazer, de que se orgulham ou simplesmente sentem que foi o mais correto, e valorizem-se.

E só depois dessa tomada de consciência é possível identificar o que fizeram, o que usaram nesse caminho que resultou. Que forças e habilidades foram úteis, o que foi necessário da vossa parte para que isso acontecesse.

Agora sim, podemos olhar para o presente, e sem culpas, sem julgamentos (sim, é verdade, nós somos os nossos piores inimigos) decidir o que queremos mudar.

O que, sem influência da opinião dos outros, sem medo do que vão dizer, sem ir atrás de modas ou tendências que surgem nas redes sociais, o que realmente fará toda a diferença se eu alterar? Sem pretensões de querer mudar o mundo todo de uma vez, sem falsas ilusões de que tudo acontece de um momento para o outro. Apenas, e já é muito, o que realmente importa para nós enquanto família.

Mas a verdade é que não podemos querer começar por querer que os nossos filhos mudem se essa mudança não começar em nós, não só porque somos o modelo com quem eles aprendem mas também porque o sistema familiar está todo interligado, quando um se move todos os outros acompanham. Então a mudança de um reflete-se nos outros e isso vai desencadear reações diferentes logo vai iniciar o processo de mudança também nos outros.

Antes de exigir que os nossos filhos mudem os seus hábitos, é mais eficaz se pensarmos o que eu estou disposto a mudar para ter o que desejo.

Boas mudanças!

Novos hábitos na família

O início do ano é propício a fazermos balanços e planos, a criarmos expectativas, definirmos objetivos que queremos alcançar no novo ano. Infelizmente muitos desses planos caem por terra logo no princípio ou vão ficando pelo caminho.

A verdade é que mudar não é fácil, criar novos hábitos dá trabalho e por isso vamos esmorecendo a energia inicial e aceitando como normal que nada de diferente aconteça, é o típico, “já estava à espera”.

E se isto é algo que acontece connosco adultos, mais difícil ainda se torna quando queremos que o comportamento dos nossos filhos mude, que a nossa família evolua. Mas não há nada mais importante do que termos um ambiente familiar saudável, porque quer queiramos ou não ele acaba por influenciar todas as outras esferas da nossa vida!

Para isso deixo-vos o convite de completar a seguinte frase:

Para 2023 eu quero que a minha família…

E para vos ajudar a tornar este objetivo claro, talvez seja importante primeiro tentarem responder a estas questões:

O que correu bem em 2022 e quero levar para o próximo ano?

O que cada um ainda pode melhorar que irá contribuir para a família que desejamos?

Quais são as nossas prioridades?

O que queremos sentir mais, fazer mais, viver mais?

O que nos irá orientar ao longo deste caminho?

Agora que talvez já esteja mais claro aquilo que pretendem para a vossa família no próximo ano, vamos ver o que nos pode ajudar a obter e não desistir perante as dificuldades, esse objetivo que traçaram.

Primeiro de tudo é importante identificar o que nos motiva a querer isso, em detrimento de outras coisas, o porquê de ser importante, talvez algo que esteja alinhado com os nossos valores, ou alguma necessidade que precisamos que seja colmatada, e ainda ter claro o que se vai ganhar quando se chegar lá, quais os benefícios e ganhos para todos e cada um.

Depois é importante identificar as forças de cada um e como vão ser usadas em ações concretas que vão ajudar a chegar um pouco mais perto do que se almeja. Caso faltem competências que considerem fundamentais, como as podem adquirir ou desenvolver.

E por último e talvez o mais importante: é tudo uma questão de atitude, enfrentar os nossos desafios de forma positiva e acreditar que é possível mesmo perante os obstáculos é fundamental para chegarmos a bom porto!

Vamos ver este passo a passo em algo concreto, imaginem que o que pretendem para 2023 é terem tempo de qualidade em família, talvez a motivação para uns seja um maior equilíbrio entre trabalho e família, para outros seja uma necessidade de dar o seu melhor e outros sejam motivados pela diversão e lazer. Para que consigam alcançar vão usar as competências da paciência de uns, da organização de outros, da criatividade e iniciativa e talvez sintam que é necessário desenvolver a gestão do tempo e o auto controlo. Para isso estabelecem pequenas tarefas para cada um em que usam ou aprendem essas habilidades. E tudo isto só é possível porque foi incutida uma atitude positiva que acredita em cada um e no que irão conquistar em conjunto.

“A felicidade não é a crença de que não precisamos de mudar;
É a constatação de que podemos fazê-lo”
Shawn Achor